Declarações recentes do jogador Jefferson, goleiro da seleção brasileira e Bota Fogo, em um programa de esportes, denunciam, mais uma vez, a prática do racismo no nosso futebol brasileiro.
![]() |
Jefferson dando depoimento sobre o racismo no futebol brasileiro |
“Já
teve goleiros negros que me abraçaram durante uma partida e falaram: já torcia
por você e agora torço duas, três vezes mais, para que você tenha sucesso, pra
você representar a nossa cor, a nossa raça no futebol, porque eu já tive portas
fechadas porque eu sou goleiro negro.” (Jefferson,
goleiro da Seleção Brasileira e do Bota Fogo).
“Uma pessoa lá tinha contratado, no departamento
de amador, um outro goleiro de Londrina, alto, loiro e coisa e tal e o
Jefferson né, preto, grandão e coisa e tal e aí eles tinham mais predileção por
colocar aquele outro goleiro, que achavam mais interessante. Mas eu achava que
o Jeferson tinha muitas qualidades e que continua mostrando até hoje e que
seria o goleiro que eu deveria apostar. E hoje se encontra comigo na Seleção.” (Felipão, técnico da Seleção Brasileira).
A história do futebol no Brasil
acumula, em mais de um século, registros de histórias que carregam a marca indelével
do racismo. Relatos sobre o racismo no futebol brasileiro não é novidade no
Brasil, remontam aos anos de 1900, onde, segundo o historiador José Moraes
Neto, o jovem ferroviário e jogador negro, Miguel do Carmo, já atuava no Ponte
Preta, em Campinas/SP.A bola começou a rolar muito cedo, passando pelas escolas
religiosa, times de fábrica e clubes de elite. Estimulava a formação de equipes
por toda parte, o público se interessava pelo esporte e abria caminho entre as
classes sociais e os grupos étnicos. Mas isso não significava o acesso
democrático dos negros, pois negros e brancos jogavam em lados opostos. Oficialmente, a sua representação era feita
por maioria absoluta de brancos, considerado como coisa de ricos e bacanas. Não
se admitia negros nos campos e estes eram raridades nas arquibancadas.
![]() |
Ronaldinho Gaúcho em campanha contra o racismo no futebol |
No ano de 1947, o jornalista Mário
Filho já abordava essa dor e lentidão no ingresso dos negros no futebol
brasileiro. No seu livro “O Negro no Futebol Brasileiro”, o jornalista
incomodou a sociedade à época com a abordagem desse tema. Ele classificou a
política de Estado brasileira, em relação à inserção da população negra no
futebol como cínica e hipócrita, pois precisava mostrar para o ele próprio e
para o exterior, que vivíamos em uma democracia racial e que éramos um exemplo
de convivência pacífica e harmoniosa entre negros e não negros. Apesar da
iniciativa inovadora do Vasco da Gama, ainda na segunda divisão, em formar um
time composto por brancos e negros e que conseguiu um feito inédito, o de
passar para a primeira divisão do Campeonato Carioca, enfrentando equipes
formadas só de brancos, o autor lembra de uma declaração de um dos dirigentes
do Vasco: “Entre um preto e um branco, os dois jogando a mesma coisa, o Vasco
fica com o branco. O preto é para a necessidade, para ajudar o Vasco a vencer”.
![]() |
Há inúmeras referências que tratam
do tema. Livros, teses de doutorados, dissertações de mestrado, artigos
científicos entre tantas outras produções acadêmicas, bem como reportagens
apresentando esses fatos, para consulta. Mas se consultarmos a própria memória,
não tardamos lembrar de casos emblemáticos como os do Grafite, Tinga, Daniel
Alves, Antônio Carlos, Roberto Carlos, Obina, Neymar e mais recentemente, as
declarações do Jefferson, goleiro da Seleção Brasileira, em reportagem do Esporte
Espetacular, do dia 13 de outubro de 2013. Na maioria dos casos citados, os
jogadores foram vítimas de xingamentos e arremessos de objetos em campo que
faziam alusão a macacos. Vale lembrar que, de acordo com a Lei 7.716/89, o
racismo no Brasil é crime inafiançável e imprescritível. É inadmissível que, no
Brasil, país que já se autodeclarou com maioria negra, tenhamos que conviver com
esse tipo de preconceito e discriminação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário